"Um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que oacontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo que veio antes e depois."W.Beijamin
Hoje temos várias maneiras e possibilidades de pensar e executar o trabalho do ator/atriz. Dentro do panorama histórico que estudamos e conhecemos vários são os teóricos,encenadores, atores que vem ao longo dos anos dissertando e experimentando novas possibilidades, técnicas e métodos para a execução de um melhor espetáculo. Para que possamos compreender e chegar a plenitude dessas fórmulas a de se perceber que isso não é tão simples assim, tem que se ter dedicação, disciplina e a plena consciência de que não se terá fim, que sua formação é contínua. Assim sendo e concordando faço uso das palavras de Peter Brook, Teatro é sobre a vida.”..:o teatro não tem categorias, é sobre a vida. Este é o único ponto de partida, e além dele nada é realmente fundamental. Teatro é vida.”(P.Brook- pg.7)
Sendo assim é infinito, pois não deixamos de viver nunca, apenas quando encontramos com a sorrateira falência total. Logo devemos estar atentos de que por mais que tenhamos vivências e experiências no teatro e na vida, não se trata de estarmos prontos, porém em cada novo processo de criação, estar disposto para aprender e desaprender.
No processo de criação de um espetáculo e no processo criativo em que o ator/atriz mergulha ao começar a ensaiar, proponho uma reflexão fundamentada em duas palavras a experiência e a vivência. Como nos posicionamos quando somos levados a um novo processo perante os demais participantes, independente de seu grau de importância nesse processo. O ato de experimentar, não simplesmente ver se é bom ou ruim, é muito mais submirjo, trata-se de um conhecimento adquirido pela prática da observação ou do exercício. É fazer uma experiência realizar-se. Vinculado a tudo isso está à vivência, tenho de vivenciar essa experiência, abrangendo a vivência como ato de vida, como uma participação passiva, emocional e intelectualmente ativa.
Visualizando os processos de criação já analisados, podemos perceber ainda que se trata de uma entrega e da disponibilidade de quem faz, porém devemos estar atentos não a formulas prontas, mas sim a pesquisa e investigação contínua dessas possíveis “fórmulas” nessa nossa prática façamos uso e levemos para essa pesquisa a proposta dada por Antônio Araújo, no processo de criação do Teatro da Vertigem, onde esse coloca o ator/ atriz como um artista- pesquisador:
Observação Ativa
Abrir-se a percepção dos cinco sentidos;
Dirigir a atenção e o pensamento para o movimento;
Penetrar atentamente nos detalhes;
Descobrir as causas, percebendo o que há por detrás das coisas, a fim de aprender suas possíveis leis(que revelassem uma relação constante ou necessário entre os fatos);
Imparcialidade (o não-julgar previamente, libertando-se de suas ideias preconcebidas, o neutro)
Procurar e/ou estabelecer as relações internas dos fatos;
Dialogar com os fatos;
Usar a máxima suspeita
Usar máxima suspeita sobre si mesmo;
Fazendo uso desses instrumentos dados por Antônio Araújo, do qual o mesmo fez uso em ParaísoPerdido, deve existir o exercício de se perguntar. Aonde queremos chegar? O que queremos comnossa arte? Preparação para o que? Para a formação de um grupo/artista? Para o desenvolvimentoda investigação teatral? Para criação de um espetáculo? Mas de que se trata? O que buscamosquais os resultados que queremos? Como promover ideias pela arte? Devemos definir qual apergunta para a excussão do nosso trabalho e pesquisa.
Trata-se de estarmos dispostos a estar em cena a compor a cena, vivenciando e expêrenciandopara a sua composição real. Nesse usar de métodos e técnicas nos dadas por Stanislávski, Artaud,Grotówski,Eugenio Barga, Peter Brook dentre outros façamos uso para nossa leitura e entrosamentodo que nos traz Matteo Bonfitto que estudou os processos de criação de Peter Brook, afim decompreender como a vida e o teatro podem se fundir através da experiência. Em seus processosPeter Brook, colocava seus atores para improvisar, a partir do “nada” ou de objetos, pois em seuteatro a simplicidade é o que faz a encenação acontecer, não há segredos no teatro, é a vivênciarealizada pelo ator que é para ele um contador de histórias. Sobre o que queremos falar? Sobreque histórias nós falamos?
Vendo no improviso o lugar da pesquisa e da descoberta Bonfitto reafirma através de Brook
...”nesse sentido, as ações surpreendentes, as quais muitos atores considerariam como não relacionadas ao universo da própria personagem, se tornaram, como acontece na vida, a revelação de uma faceta inesperada de uma pessoa. Brook queria que os atores fossem “saturados pelas personagens através da exploração de cenas que não existiam no roteiro.(M. Bonfitto-pg45)
É necessário vivenciar a cena, não apenas ler e falar, há de se viver intensamente essespersonagens tirá-los de nossas vidas, afim de que essas ações sejam reais, e que advenham daimprovisação no processo de criação. É confuso e complicado se pensarmos como essas ideias seorganizam como elas acontecem, porém não é necessário ter-se pressa, é como a formação de umpensamento, assim deve ser a composição da cena, logo de início surgirão duvidas, e isso énecessário, é como aprender a andar, não existe certo e errado, mas tem que se arriscar, assimchegaremos a algum resultado. Há de se aprender a andar todo dia e de várias formas diferentes.Vivenciando a dramaturgia exercendo a mesma em vida e na constituição da cena. Para isso devemos ter a visão atenta ao processos de ensaios, pois é nesse misturar-se de criação que o ator/atriz deverá enxergar. Pois:
“O processo de ensaios é como um pêndulo[...] O que importa nos primeiros estágios é a energia, não o resultado[..] Nos primeiros estágios, qualquer coisa pode ser útil: boas ideias necessitam ser despejadas em uma mistura diforme, generosa e enérgica[...]. E então, pouco a pouco a excrescência é jogada fora e as verdadeiras formas, as verdadeiras linhas, que estavam lá, o tempo todo, podem ser descobertas.(M.Bonfitto-pg70)
Nesse processo de ensaio o ator/atriz deve padecer e se destinar ao seu treinamento, énecessário estar atento pois não basta uma, duas, ou dez experiências em cena, há sempre umanova a ser vivida. Nessa perspectiva o ator/ atriz tem de estar com sua observação ativa epercepções acionadas a todo momento, pois nesses período em que a criatividade é estimulada ,ele passa por experiência e coleta de repertório e informação únicas , onde o mesmo passa aconhecer melhor até ele mesmo.
“o ator devia investigar a si mesmo: Os atores precisam experienciar um intenso processo de auto-exploração[...] Eles precisam se despir de suas aparentes personalidades, maneirismos, hábitos, vaidades, truquês, clichês[...] para que um estado mais profundo de percepção seja encontrado[...] Nós estamos nos desembaraçando de nossa condição cotidiana[...] mas os atores precisam se transformar antes. Ele precisa se libertar de sua pele inútil como uma cobra. Ele precisa transformar seu inteiro ser. Conhece a ti mesmo.(Bonfitto.pg-47,48)
Estar atendo a vida e vivenciar experiências é de suma importância para o ator/atriz poisele é responsável pelo seu trabalho, e é desse emaranhado e dessa combustão criativa que irá criar. Em outras palavras, o ator é responsável pelos resultados gerados por seu trabalho, ele é responsável pela qualidade produzida em cada momento de sua atuação.(Bonfitto,pg.66)
Essa é nossa principal ação enquanto ator/atriz estar sempre investigando a cena e agregando conhecimento ao nosso árduo exercício de estar em cena, fazendo e reaprendendo a composição da cena, é aquela que imprime uma experiência de vida através da execução do espetáculo. A premissa é de questionar, de nos perguntarmos sempre como compor a cena, vivenciando e experienciando verdadeiramente cada latência que emergir.