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"A questão da relação entre o teatro e a vida, entre o teatral e o real, é incessamente examinada sob todos os ângulos. Se as vezes dramaturgos sucumbem aos atrativos de uma imagem emprestada "da vida", muitos se questionam sobre a distância correta a ser encontrada entre o que parece justo no mundo e que não o é mais teatro, sobre o grau de abstração necessário da arte do teatro, sobre o afastamento indispensável entre a escrita e o mundo, entre a cena e a escrita." (pg.199/Ryngaert)
  A investigação da relação entre teatro e vida é incessante, vários artistas, teóricos e pesquisadores afirmar e reafirmar essa questão. Todos em busca de metodologias, técnicas que comprovem e que neguem essa premissa. Na  visão de Peter Brook em seu livro a Porta Aberta, o mesmo elucidando sobre seus processos cênicos, que não há segredos e que Teatro é vida. Em Ryngaert, observamos que trata-se de uma perspectiva vinculada a dramaturgia, sendo e concordando que a dramaturgia é a arte de composição de cena como também nos coloca Pavis, e agregando aí o discurso da Pallontini, onde está indaga que essa composição se dá na junção da dramaturgia do ator/atriz com o texto.Observar e discutir que o teatro acontece no lugar da ação, ou seja na cena, é impossível negar que o teatro e a vida estejam interligados no processo de constituição do espetáculo.
   Refletir sobre processos de construção de dramaturgia implica em compreendermos e percebermos que imagens estão contidas no texto, que imagens criamos ao compormos a cena teatral. Segundo Antônio Araújo e suas experiências (no teatro da Vertigem) as composições  e investigações vem de um processo individual e coletivo, sendo essa sua pesquisa no processo colaborativo, podemos concordar que a dramaturgia pode vir a ser  escrita na cena, como é colocado pelo mesmo ao analisar seus processos, trata-se portanto de tecer a cena, o espetáculo.
Seria e estaria no papel do artista/pesquisador de teatro, mais afundo do encenador, fazer com que o espetáculo se realize, que o texto deixe de ser literatura dramática e passe a ser escrita cência, que a palavra vire ação. Assim sendo a afirmação de Ryngaert é paradoxal, pois se a escrita e o mundo, a cena e a escrita afastam-se em sua realização ao mesmo tempo estão intrinsecamente ligadas.O autor cria a escrita abstraindo e subvertendo uma realidade  na qual o mesmo está inserido, pensando esse autor como contemporâneo, que está fora e dentro do seu tempo, ao compor está escrita ele compõem uma obra. Está obra por sua vez é cheia de imagens e expressões, a qual o artista vivência e cria na sua subjetividade artística.
Concomitantemente reafirmo a cena como o lugar da ação, e a há vendo afastada da escrita, torna-se mais uma vez paradoxal , não que isso não seja possível enquanto literatura dramática. Se percebermos a investigação e a composição da cena acontece através do ator/atriz, a poética da cena realiza-se em processos onde a dramaturgia e o trabalho do ator se encontram, podemos afirmar então que  nesse processo de construção do espetáculo realiza-se através da palavra e da ação, sendo assim palavra é ação pois ambas realizam-se no mesmo tempo.
    Esse afastamento é inegável se formos pensar nas várias possibilidades e métodos de existentes para a construção de espetáculos, porém não podemos negar que por mais que haja esse deslocamento e abstração na realização do teatro, há vida nos dará sintomas reais e inegáveis na relação entre teatro e vida, e entre o que é real e o que não é real no teatro, pois o teatro em si cria e recria imagens, a partir de uma dramaturgia exercida em vida.
Por - Lili Lucca

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