Espaçamentos e o espaço.

Nos deslocamos em espaços diferenciados esse ano. Onde estamos? Que espaços são esses? Onde atuamos, ou porque deixamos de atuar, alguns de nós, devem ter parado. Dentre esses espaçamentos e espaços percorridos, espaços inabitados, há o espaço vazio. Nós sabemos que o nosso espaço enquanto definição é no palco. "E o teatro com seu espaço iluminado ou não, nos terá sempre ali presentes, criando, pesquisando, investigando....sendo."REKA.
Há de se mover, se locomover e ver o espaço cheio novamente. Ver o espaço, um de nossos exercícios tem sido o de ver, eu estive vendo, e refletindo pude perceber que o espaço vazio, é o lugar da criação, pode vir a ser, basta estarmos dispostos dali em diante a criar. 
"Para que alguma coisa relevante ocorra, é preciso criar um espaço vazio. O espaço permite que surja um fenômeno novo, porque tudo que diz respeito ao conteúdo, significado, expressão, linguagem e música só pode existir se a experiência nova e original é possível se não houver um espaço puro, virgem, pronto para recebe-lô."(pg.4-Peter Brook-A Porta Aberta)
Há de se perceber no vazio do espaço e no espaço não habitado a criação. Vendo espetáculos diferenciados e de digamos receitas diferentes, vi nos mesmos algo em comum, a simplicidade do teatro e no teatro, não é necessário toda a parafernália, basta estar ali realmente presente.
Nesse último mês fui privilegiada, com grandes espetáculos, contraditórios em seus discursos mas humanos em sua realização.
Ao ver Viver em Tempos Modernos, com Fernanda Montenegro tive a impressão de me locomover no espaço da minha imaginação e memória. O que foi necessário? Uma cadeira, uma luz quase invisível e uma bela dramaturgia, sim o essencial estava lá a atriz. Estar ali naquele lugar durante uma narrativa de 60 minutos aproximadamente e ser levada a França, ver e se ver em Simone Beauvoir, apaixonar-se por Sartre e buscar ser amada por um filósofo foi só um pouco do que me aconteceu. Senti-me um pouco compreendida ali, senti-me despida e ao mesmo tempo fui junto aqueles lugares. Com poucas ações em cena, quem sabe mais fossem necessárias ou não.O espaço também estava vazio e o essencial aconteceu.
Cada vez mais faço voz ao que nos traz Peter Brook, pois teatro é sobre a vida. Sobre as histórias que queremos viver, é necessário vivenciar verdadeiramente isso, pois qual o trabalho do ator/atriz, indo mais além do artista ele tem de estar pronto a fazer com que o pensamento aconteça em cena tecer a cena no ato da ação.
"...o teatro não tem categorias, é sobre a vida.Este é o único ponto de partida, e além dele nada é realmente fundamental. Teatro é vida."(pg.7 Peter Brook)
Permitir ao espectador estar ali, sem categorias, ser uma obra sobre a vida, na simplicidade do espaço vazio, poder contar, falar e ver uma história acontecer perante seus olhos. Ao assistir a Flauta Mágica de Peter Brook, percebemos que é simples que não se precisa de muito, basta ser humano e estar na cena, não é necessário muito para fazer,pois no teatro a imaginação preenche os espaços, é sobre a vida que as obras de arte são criadas.
Em Flauta Mágica o espaço estava vazio, poucos objetos, todos funcionais, porém a ópera foi feita, a encenação não precisou de muito para acontecer é necessário que seja sobre a vida, vê-se ali a relação entre a cena e a música.Os atores e atrizes cantores exímios, mas nem todos em exelência de plenitude.
Além de tudo que foi visto e escrito por aqui tem algo, que sempre devemos nos perguntar e nos questionar.
"O que é preciso para transformar o banal em sublime?"P.Brook
Eu vi algo sublime.Fui feliz. Mas quando chegarei ao ato do sublime? 
Há muito caminho pela frente.
    Entre espaçamentos entre nós e espaços percorridos e espaços vazios pela nossa presença REKA, vim até aqui hoje pra contar o que ando vendo. E para dizer que como já sabem vocês fazem falta em meu viver, e na cena ao meu lado.Será que nos encontraremos na cena nos espaçamentos que a vida nos coloca, não sei.Porém aplausos e alegrias a Larissa Lima, sinto me acalentada por ela em cena,ela que teve estréia esse mês em São Paulo.MERDA sempre.
Que continuemos mesmo longes, com a certeza de que, nosso espaço é ali.
"Ao cansaço segue-se o sonho, e não é raro que o sonho compense a tristeza e o desânimo do dia, realizando a existência inteiramente simples e absolutamente grandiosa que não pode ser realizada durante o dia, por falta de forças."W. Benjamin

1 comentários:

Maurício disse...

Muito bom o texto, que essa distância seja enriquecedora para todos da cia. sinto na essência do texto saudades, experiência, novidades que isso seja um motivador para voltarem a produzir. Parabéns REKA!!!Muita MERDA!!!